Permanecemos mães




"Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu"
Chico Buarque - Pedaço de Mim

Com a proximidade do dia das mães eu imagino que muitas mães entram no mesmo limbo emocional que eu. É um mundo frio e silencioso onde vive o coração de mulheres que enterraram seus filhos. Seja o feto no aborto inesperado, a criança levada pela doença incontrolável o jovem colhido pela violência, o adulto por qualquer um das inúmeras e injustas razões que levam uma mãe a cobrir o corpo do filho amado, com a pedra gélida em um cemitério. Essa, é a época do ano que além de triste e melancólica,  as pessoas nos olham e sem saber como agir, fingem que nada aconteceu.

Não existe palavra para a mãe que perde o filho. Continuamos mães, mesmo com o quarto vazio, sem os abraços, sem os dilemas sem as glórias e as pequenas dores. Porque perder um filho é a dor maior.

Continuamos mães mesmo que essa palavra não seja verbalizada em nossa direção. Continuamos mães quando temos outros filhos, continuamos mães quando o que baixa à sepultura era único. 

Nesse dia das mães, não ignore a sua amiga, a sua familiar, a sua colega de trabalho, faculdade, vizinha, que perdeu um filho. Porque nós somos mães. A morte não apaga as dores do parto, o seio vazando leite, as noites em claro, os abraços, o cheirinho de neném, o primeiro dia da escola, o primeiro castigo, os passeios, os aniversários, o amor todo que existiu. Abrace, dê uma palavra, deseje um dia de muito amor, presenteie. Mande flores se não souber como presentear, mas não finja que não somos mães. Se tiver dúvida, converse, pergunte como nós nos sentimos, o que esperamos nesse dia. A gente silencia a dor porque a vida não para, não há tempo para se lamentar eternamente. Mas continuamos mães. Já perdemos muito, não é justo perdermos também, os transportes de afeto dessa data.

Nesse domingo, seja amoroso conosco. Nossos filhos se foram, mas ainda somos mães.

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