Logan - o filme que os fãs esperavam



“Um homem tem que ser aquilo que ele é Joey. Não pode quebrar o molde. Eu tentei e não funcionou comigo. Não tem como viver com… um assassinato. Não tem como voltar de uma morte. Certo ou errado, é uma marca. Marcas ficam. Não há como voltar. Agora você vai para a sua casa, para a sua mãe, e diga a ela… diga a ela que está tudo bem. E que não há mais nenhuma arma de fogo no vale”.
Trecho do filme Os brutos também amam (1953)

Se a Fox serviu de chacota durante muitos e muitos anos devido a filmes equivocados da franquia X-men e Quarteto Fantástico, com Deadpool (2016) e agora com Logan  ela mostrou que há um caminho a se percorrer no segmento de filmes de heróis. Um caminho diferente da receita de bolo já batida da Disney/Marvel ou da tentativa, acertos e erros da Warner no que tange ao universo da DC.

Em comum os dois filmes são violentos e trazem a essência de seus personagens título. E só. Enquanto Deadpool é raso porém divertido, Logan é uma road trip densa, triste amargurada, como o mutante que eu conheci nos quadrinhos nos primeiros anos da década de 90.

Se Deadpool tem lá seus momentos sérios imersos no mar de piadas, Logan tem seus momentos de fazer o público sorrir. Mas ao contrário do que normalmente tem acontecido nos filmes de heróis quando tentam ser mais sérios e apelam para alívios cômicos, os momentos que arrancam sorrisos ou gargalhadas em Logan são poucos, pontuais e absolutamente dentro do contexto. Como na hora em que ele dentro do carro, exige que Xavier mostre que engoliu os remédios e o velho professor, já cansado do tratamento que lhe é dado, exibe a língua impaciente. Ou como na cena mostrada nos trailers, quando Wolverine impede X-23 de matar o pobre atendente do posto de gasolina. 

Logan é violento como o personagem sempre foi nos quadrinhos, mas nunca fora nas telas de cinema. Na verdade o Wolverine que mais se aproxima desse último filme solo do mutante, talvez seja o que aparece por poucos segundos em X-men Apocalipse. A classificação etária mais alta permitiu essa aproximação. Apesar de ter crianças, Logan não é um filme para elas.

Logan cuida de um Xavier senil que alterna a confusão e momentos de lucidez

Num futuro onde fatos não explicados dizimaram os mutantes, Logan e Caliban cuidam de um professor Xavier fragilizado, controlado por medicamentos. Os planos de Wolverine para conseguir um lugar tranquilo para cuidar do fim da vida do professor e para abrigar o próprio cansaço e velhice são interrompidos ao cruzarem o caminho de Gabriela e Laura. Logan está velho seus poderes de cura quase não existem mais o que o leva a lidar com todos os inconvenientes da idade e do consumo excessivo de álcool a que se entregara para suportar a dor de um passado que está marcado.

Marcas ficam Joey.

A fotografia, as cores lavadas, os tons alaranjados dão ainda mais força à melancolia e o desgaste dos personagens. Já a escuridão traz a proximidade e aconchego nas relações entre os personagens. A brancura higiênica no entanto traz crueldade, frieza, terror.


Não há morte fácil de digerir nesse filme, a não ser a daqueles personagens listados como "bandido 1", "policial 2", "capanga 3" e por aí vai. E morrem muitos e daquele jeito que quem é fã do carcaju sempre quis ver no cinema. Esqueça as mortes assépticas de outros filmes do universo Marvel. O próprio Logan se esvai em sangue em consideráveis minutos do filme. Eu já avisei lá em cima que Logan é violento.

Laura, a X-23. Matança sem eufemismos ou sutilezas infantis

E por fim a Laura, a X-23 interpretada por Dafne Keen que chuta o politicamente correto para o quinto dos infernos. A pequena é uma máquina de matar, cruel eficaz e amoral. Xavier e Logan é quem apresentam à pequena os dilemas de que não se pode conviver pacificamente com um homicídio.


Logan - inspirado nas Hq's Velho Logan, no filme Os Brutos também amam e em tantas road trips e faroestes desolados e sangrentos - é finalmente um filme de heróis para gente grande, que foge de fórmulas repetitivas ou confusas. Ele começa e termina uma história, sem deixar pontas soltas que serão explicadas no próximo filme. Porque não haverá próximo filme. Uma despedida honrosa para Hugh Jackman, um presente despido de fan service para os fãs. Que bom que finalmente isso nos foi dado. Que bom.


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