Dias atrás vi uma mulher no facebook se queixar de que o motorista do ônibus a obrigou a descer do veículo pelo fato de que o leitor de cartões estava com defeito e ela não tinha dinheiro para pagar a passagem. Pensei comigo, que ela se deixou subjugar pela ignorância. Como ela desconhecia o direito que tem enquanto consumidora, acatou a ordem.
Essa semana tive que pegar um ônibus no meio da tarde. Estendi os R$4,00 para o motorista, mas o mesmo não tinha R$1,10 para me devolver de troco. Primeiro perguntou onde eu desceria, ao que respondi que iria até a universidade. Então pediu que eu sentasse e aguardasse ele conseguir dinheiro trocado (o caixa estava vazio). Me dirigi à catraca e esperei que ele a liberasse, mas, ao invés disso, ele me devolveu os quatro reais e pediu que eu subisse pela porta de trás.
Sorte a minha? Não. Ele simplesmente fez o que é correto. Correto perante a lei que diz que "Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. (artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor) " Não é problema meu se a empresa não disponibiliza dinheiro para troco, assim como não era problema da moça, se o leitor de cartões estava com defeito. Não podemos ser punidas e arcar com o vício no serviço oferecido pela empresa.
Mas aí, vendo as manifestações em São Paulo, pensei cá com meus botões: e se o motorista tivesse me negado o direito de usar o ônibus por não ter troco? Ou se tivesse acontecido comigo, o que aconteceu com aquela moça? Bom, eu teria tentado argumentar quanto à lei, e se em último caso não funcionasse, chamaria a polícia para o motorista como já fiz uma vez em outra situação anos atrás.
Isso me fez pensar que muito provavelmente, as pessoas dentro do ônibus -se bem conheço o uberabense - não só não me apoiariam, como ainda ficariam contra mim, por eu estar atrapalhando o andar bovino de suas vidas. Porque defender meu direito os faria chegar atrasado. Pra quê ser do contra, se você pode ser mais um conformado, que reclama de tudo enquanto toma a cerveja gelada no fim de semana (mas que não faz nada contra o que te aborrece, ou o que te violenta)?
Essa reflexão foi extremamente desanimadora. As pessoas não sabem a força que tem. Preferem se resignar. Penso nos protestos em São Paulo. Ali se vê três tipos de pessoa: os idealistas os badernistas e os conformistas. E os piores são os conformistas. Porque tem os que se conformam em deixar o governo fazer o que quer. Tem os que se conformam em ver alguém agredir, depredar. Que se conformam em ver o colega de farda abusar da autoridade. Tem os que se conformam.
Idealistas, badernistas e conformistas entre a população, entre o governo, entre as forças armadas. O quadro é triste, mas nos leva a refletir sobre a indignação. E eu ainda prefiro alguma indignação do que nenhuma
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