Ir ao mercado comprar meia dúzia de coisas, esperar que o auxiliar coloque tudo em algumas sacolinhas de plástico (isso quando não se pede que coloque mais de uma – para garantir), voltar pra casa. Algo que parece tão banal e insignificante, ao se observar isoladamente, se torna um atentado contra humanidade se pensado globalmente.
As sacolas plásticas comuns são derivadas do petróleo, mais especificamente de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD), e que pode levar séculos para se degradar. Inventadas em 1862, as primeiras unidades ainda existem.
“Ah, mas é tão prático, e o supermercado dá as sacolinhas de graça...” Errado. A começar pelo “de graça”. O preço das sacolinhas, que varia de 0,01 a 0,03 por unidade, é embutido no preço dos produtos. Dados do Ipead/UFMG mostram que a cesta básica em Belo Horizonte – onde as sacolas foram proibidas – custava cerca de R$263,70 em março de 2011 (um mês antes da lei das sacolinhas) e em março de 2012 (um ano depois) teve seu preço médio reduzido para R$260,32.
Além desse custo final, há todo o custo ambiental de sua fabricação. Produzir uma tonelada de plástico demanda 1.140 KW/hora (o suficiente para manter por volta de 7600 residências iluminadas com lâmpadas econômicas por 1 hora). Também há o consumo da água utilizada no processo e os resíduos resultantes do processo. As sacolas plásticas que compõem 9,7% de todo o lixo brasileiro, são de difícil reciclagem, pois nem sempre são descartadas de modo a possibilitar sua reutilização. Além claro que, se jogadas na rua, dificultam o escoamento da água da chuva em bueiros, nos aterros criam camadas impermeáveis que dificultam a degradação de outros compostos, em rios e mares podem ser confundidas com alimento por animais marinhos, o que acarreta na mortandade dos mesmos. Praticamente uma hecatombe que causamos inocentemente.
Diante do impacto ambiental negativíssimo ambientalistas e governos voltaram seus olhos para a questão. A primeira solução vislumbrada foi a utilização de sacolas oxibiodegradáveis. O plástico biodegradável é um plástico que recebe a adição de anti-oxidantes e pró-oxidantes, que garantem a oxidação do plástico. Isto faz com que sua decomposição no ambiente seja acelerada: o processo que levaria em torno de 400 anos, se dá em aproximadamente, 18 meses. Mas já foi comprovado que isso não é tão bonito quanto parece. Além de caras, as sacolinhas não são tão biodegradáveis como se pensava.
“Na natureza, nada se perde, tudo se transforma. Não existe mágica. O aditivo presente nas sacolas oxibiodegradáveis apenas quebra as moléculas desse material plástico em milhares de pedacinhos invisíveis a olho nu. Na verdade, o plástico ainda está lá, mas em uma estrutura diferente”, salienta Eloísa Garcia, gerente do Grupo de Embalagens Plásticas e Meio Ambiente do Cetea – Centro de Tecnologia de Embalagem de São Paulo. “Todas essas partículas vão se espalhando e causando danos irreversíveis, dos quais só teremos conhecimento no futuro. Tais resíduos contaminam os lençóis freáticos e as plantas. Os animais, por sua vez, se alimentam dessas plantas e nós nos alimentamos deles. Assim, estaremos todos contaminados” conclui Eloísa.
Então qual a saída?
Restringir por completo o uso de sacolas plásticas é utópico e até certo ponto hipócrita. Não resolve o problema penalizar o consumidor final, se os fabricantes dos produtos habitualmente carregados em sacolas, continuam utilizando plásticos não biodegradáveis nas embalagens de seus produtos. A conscientização deve partir das grandes empresas, passar pelos bancos de escola, mídias e então chegar ao público consumidor de forma a se tornar um hábito. É essa a palavra. O uso de sacolas de tecido, as chamadas sacolas retornáveis deve se tornar um hábito. O que vai resolver os problemas ambientais causados pelas embalagens é o consumo sustentável e responsável das mesmas.
É justo obrigar o consumidor a levar a sacola retornável? Tão justo quanto exigir que alguém que está com pressa, obedeça ao limite de velocidade. Pode não ser conveniente, mas é o certo, tanto para nossa segurança quanto para a segurança dos demais. Uma sacola de tecido ou mesmo de TNT, se bem dobrada ocupa um espaço insignificante dentro de bolsas, da porta luvas do seu carro, da sua mochila, até do bolso da sua jaqueta. Claro que em casos de compras volumosas não dá pra acomodar tudo dentro de uma sacola. É só usar o bom senso. Na Europa onde as sacolas são cobradas, carregar as próprias sacolas é tão natural quanto calçar os sapatos antes de sair de casa.
Carregar as compras em sacolas retornáveis é mais prático; dispensa os momentos de tensão entre o mercado e a sua casa, pois dificilmente vão arrebentar com o peso da sua compra. Alguns supermercados dão descontos em dinheiro para clientes que utilizam sacolas retornáveis (o que aliás, deveria ser feito por todos os supermercados). Em casos de produtos que não possam ser embalados junto (como alimentos e produtos de limpeza), se for uma compra pequena, que será levada na mão, leve mais de uma sacola. Se fizer parte de uma compra maior, peça para que sejam colocadas em caixas de papelão. Simples. É claro que nem sempre se terá uma ecobag à mão e aí o uso da sacolinha será inevitável, mas educar-se não é tão sacrificante assim.
Fontes:
Consumo
consciente de sacolas plásticas. Disponível em http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/plasticos/saco-plastico.php. Acessado
em 21 de setembro de 2012
MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE. Saco é um saco – Cartilha para consumidores. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/consumo-consciente/html/reciclagem/reciclagem/cartilha-para-consumidores acessado
em 21 de setembro de 2012
SPITZCOVSKY, DÉBORA.
Disponível em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/plastico-oxibiodegradavel-uso-sacola-plastica-descartavel-546601.shtml
acessado em 25 de setembro de 2012.
MARTINS,
TÁBITA. Sacolas plásticas: entenda a polêmica, a crítica e a defesa. Disponível
em http://www.em.com.br/app/noticia/especiais/rio-mais-20/noticias/2012/06/25/noticias_internas_rio_mais_20,302273/sacolas-plasticas-entenda-a-polemica-a-critica-e-a-defesa.shtml. Acessado
em 25 de setembro de 2012.
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