Orgulho por quê?

E então os vereadores paulistanos que não tem absolutamente nada de importante pra se preocupar (pra que né? A cidade é tão perfeita, tudo funciona tão bem, a população é tão bem atendida...) aprovaram o tal dia do Orgulho Hétero.

Sou hétero e particularmente não acho que isso seja motivo de orgulho. Nem de vergonha. Orgulho pra mim, é ser honesta, pagar minhas contas, criar meu filho sem ter aceito nenhum dos convites de velhotes (nojentos e necessitados de reafirmarem sua masculinidade) pra me tornar amante em troca de boas condições para meu filho. Agora, ter orgulho por ser hetero, homo, branco, negro, amarelo, sem raça definida (situação em que me incluo), isso pra mim é uma grande bobagem.

Considero bobagem por que seria me considerar diferente e até onde me lembro, não sou diferente de ninguém. Nasci da fertilização de um óvulo por um espermatozóide, passei nove meses na barriga da minha mãe, fui parida, amamentada, ralei os joelhos no chão engatinhando, aprendi a andar, a comer sozinha, a limpar minha bunda sem precisar da ajuda de ninguém, cresci e apareci. E daqui pra frente, o negócio é envelhecer e morrer, ou morrer sem envelhecer né, quem sabe? Vivo minha vida e procuro respeitar os outros pelo simples fato de que é o mínimo que espero pra mim. Respeito. Dizer que tenho orgulho de ser uma coisa, pra mim é imediatamente dizer que tenho vergonha do oposto. Então, se tenho orgulho por ser honesta, vergonha pra mim é roubar, mentir, sacanear gratuitamente, enfim DESRESPEITAR.


Infelizmente houve um tempo em que um determinado grupo de pessoas, se julgava superior às demais, por serem homens brancos e cristãos e esse ranço idiota de superioridade ainda encontra eco e faz com que as pessoas ainda fiquem procurando motivos, justificativas para se sentirem melhores que os outros ou pelo menos aceitos, ou defendidos, ou justificados.

E essas determinações de orgulho por ser isso ou ser aquilo, vão alimentando a sensação de que pertencemos a grupos diferentes e algo me diz que os embates se mostram inevitáveis. Por mais que lutemos por igualdade, nos restringimos aos nossos guetos, guetos de cor, de classe, de religião, de conhecimento, de sexo e ficamos ressentidos por sermos apontados pelos membros dos outros guetos.

Sonho com o dia em que não haverá motivos para se orgulhar. Não por termos descido tão baixo, mas por termos finalmente entendido, que a lei estava mesmo certa; somos todos iguais.

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