CVV Uberaba precisa de voluntários para continuar salvando vidas



Foto: Lugas Neto
Angústia. Os olhos fitam o teto e as paredes em busca de algo que possa aliviar aquela dor, que apague as lembranças, as dúvidas, os medos. Ninguém está em casa, os amigos off-line no msn. Não há voz, nem olhar, nem mensagem. Tão mais simples acabar com tudo de uma só vez e não mais sentir dor, medo, vazio, dúvida, desespero...

Entre o quarto e a área de serviço, o corredor, a sala, a lembrança dos olhares. E seus pais, como ficariam? Seus amigos, amores, como deixar todos assim? A dor é grande, a dúvida é imensa. Na sala da casa, há um telefone. Dedos nas teclas, finalmente surge uma voz: 

-Cvv, boa noite!

Há 49 anos no Brasil, situações semelhates a essa acontecem em 53 cidades brasileiras. Uberaba integra a rede de solidariedade, desde 1982 quando o psicólogo Vicente Higino ouviu numa rádio sobre o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Ribeirão Preto. Viajou até lá e informou-se sobre os procedimentos para a implantação do centro, desde a captação, seleção até o treinamento de voluntários. Vicente apresentou a proposta ao médico psiquiatra Antônio Joaquim dos Santos Prata e, em junho de 1983, nascia o CVV Uberaba.


O CVV é uma instituição filantrópica de apoio e valorização da vida. Inicialmente era chamado de Centro de Prevenção ao Suicídio, mas de acordo com a coordenadora da comissão de divulgação do CVV Uberaba, Valderli, ao longo do trabalho decidiu-se apresentar a entidade como um Centro de Valorização da Vida, pois acredita-se que valorizando a vida, previne-se o suicídio.

A Rotina de Trabalho
O trabalho é desenvolvido por meio de atendimento telefônico, no qual o voluntário se coloca à disposição da pessoa que está sofrendo, para ouvi-la, sem julgamentos. Uberaba já contou com 45 voluntários e teve esse grupo reduzido a apenas 16, o que inviabilizou o atendimento 24 horas, preconizado pelo CVV em todo o país. Atualmente, o atendimento ocorre das 15h Às 23h30, durante toda a semana, inclusive feriados.
Morleno, voluntário a 20 anos, conta que buscou o curso de voluntariado após perder a visão, como uma forma de se sentir reintegrado à sociedade. "A minha intenção era trabalhar para mim. Nunca gostei de ficar só". Na ocasião, ele foi o único candidato ao curso, o que não o impediu de receber todo o treinamento e atenção por parte dos já voluntários. "Foi enriquecedor. Os cinco voluntários se disponibilizando a passar o curso apenas para mim me senti valorizado. Eu voltei a me sentir gente".

Tanto ele quanto a diretora Valderli concordam que em Uberaba há muita disposição da população ao voluntariado, mas conseguir pessoas dispostas a ouvir é extremamente difícil. "O trabalho do voluntário é muito solitário e muito difícil, porque as pessoas primeiro precisam aprender a trabalhar consigo, se conhecer e se aceitar pra poder ouvir o outro, sem barreiras, sem julgamentos, sem frases prontas.

Morleno diz também que o número de pessoas atendidas não é o mais importante. Desejar que aconteçam ligações significa desejar que haja pessoas em situações de desespero e o voluntário não deve ter esse desejo, mas sim estar a disposição de estar ali quando alguém precisar.

Valderli classifica o suicídio como um ato extremo de comunicação, a última forma que a pessoa encontra de fazer com que os outros saibam de seu sofrimento. A falta de voluntários compromete esse trabalho, visto que a maior parte do dia a unidade não tem atendimento. Até em sua versão online o CVV tem restrições de horário, limitado às 22h45.

Os dois voluntários ouvidos nesta reportagem disseram que, nos tempos atuais as pessoas estão profundamente isoladas, envolvidas co as próprias dificuldades e este seria um dos fatores que dificultam o surgimento de novos colaboradores. "As pessoas não querem ouvir, não querem disponibilizar seu tempo para ouvir o outro, com medo de se confrontar com  os próprios problemas", explica Valderli.

Seja Voluntário
As seleções de voluntários ocorrem a cada dois meses. Qualquer pessoa maior de 18 anos, com disponibilidade de tempo, predisposição a ouvir e calor humano, a oferecer, pode participar do curso. Após conhecer a filosofia de trabalho do CVV, o candidato a voluntário passa então por um treinamento de oito semanas, para se capacitar para o trabalho.

O CVV em Uberaba, tem sede à rua Fausto Salomão Trezzi, 40, atendendo por meio dos telefones 141 e (34)3317-4111. O site para maiores informarções e atendimento via chat é www.cvv.org.br.

Morleno é categórico ao dizer que hoje é uma pessoa melhor e se sente mais feliz por ajudar, via CVV. "Uma vez alguém disse: o dia em que você conseguir, no meio de um milhão, ou dois milhões de pessoas que tentaram o suicídio, falar com essa pessoa e conseguir salvá-la, você salvou o mundo".

Postar um comentário

0 Comentários