Reunião ontem para apresentação do novo sistema de ensino da rede municipal |
Ontem à tarde, dia 28 de janeiro, o prefeito Anderson Adauto reuniu imprensa, profissionais da Educação e sociedade, para tirar todas as dúvidas sobre o modelo de ensino que será implantado nas escolas municipais da cidade. Dúvida sempre existirá, no fundo no fundo ele quis mesmo fazer o povo parar de #mimimi.
Explicando: as escolas municipais de Uberaba este ano não farão uso dos livros fornecidos pelo MEC, mas sim das apostilas produzidas pelo Colégio Cenecista Dr. José Ferreira. Ou seja; a intenção é dar aos alunos da rede municipal, a mesma didática do conceituado colégio particular.
Então vamos por partes:
Conversando com meu amigo @marcelosilva79 professor, mestre e creio eu que Doutor em História (já terminou o doutorado né?) ele levantou a questão legal sobre a aquisição das apostilas: houve licitação?
Não, não houve. O artigo 25, da Lei de Licitações (Lei nº 8.666/93) permitiu a dispensa de licitação para a aquisição de material didático do Sistema Cenec. Ou seja, se alguém queria questionar a legalidade da parceria, vai ter que procurar outro ponto fraco. A troca do material didático teve o aval do MEC, que afirmou não haver impedimento legal para a substituição do material didático.
Vale lembrar que o Colégio Dr. José Ferreira já tem uma parceria firmada com a PMU; é o colégio cenecista quem produz as provas de avaliação pela qual os alunos da rede municipal passam regularmente ao longo do ano letivo. E foi através dessas avaliações que se concluiu que a didática empregada não estava funcionando.
O diretor Danival Alves em sua apresentação do sistema, garantiu que a intenção é oferecer aos alunos da rede municipal o mesmo material que é empregado no Colégio Dr. José Ferreira, numa "unificação" do ensino, visando preparar os alunos da rede municipal para o ENEM e vestibulares.
Bom, agora vamos descer da nuvem e voltar a realidade:
Pra começar, ótimo realmente, o sistema cenecista realmente tem como ambição que seus alunos sejam aprovados e bem aprovados, de preferência nos primeiros lugares; MAS, o ensino municipal vai só até a oitava série; o ensino médio é dado pelo governo estadual e o Sr. Anastasia seguindo a linha de Aécio, vai deixar o ensino estadual em Uberaba, no mesmo limbo em que se encontra, definitivamente não parece intenção do governo estadual, dar a devida atenção à educação. Vai depender muito mais do aluno, se aproveitar da base adquirida com ensino cenecista e atravessar um ensino médio fraco para conseguir os resultados almejados.
Professor é mal remunerado, e os da rede municipal são extremamente cobrados, alcançar boas médias nas avaliações sistêmicas é algo exigido ao máximo dos professores, muitos professores não aguentam a carga de cobrança e abandonam as turmas em pleno ano letivo; em 2009 meu filho passou 4 meses sem professor de Português, porque a titular não aguentou o tranco, pediu pra sair e não conseguiam alguém para substituí-la.
E a parte mais triste de tudo isso: Os alunos. Cada vez mais mal educados, estúpidos, arrogantes e desinteressados. Durante o tempo q fui Agente Comunitária convivi com a realidade das professoras. Uma delas, ao avisar o aluno de 6 anos de que relataria ao pai dele a indisciplina do filho, ouviu do garoto a seguinte frase: "Pode contar, ele não me bate, meu pai só bate na minha mãe".
Uma vez ao chegar numa sala de sexta ou sétima série, agora não me lembro, para a aplicação de flúor nos alunos, encontrei duas alunas se engalfinhando no meio da sala e a professora com as mãos na cabeça perguntando a Deus o que ela poderia fazer.
Alunos agridem professores, física e verbalmente, com total apoio e conivência da mãe. Um dia no PSF ouvi de uma mãe que ela faria um abaixo assinado exigindo a demissão da professora que a aconselhara a procurar um psicólogo para seu filho (extremamente indisciplinado, e agressivo). Muitas mães transferiram para a escola a tarefa de educar e socializar seus filhos. Está errado, a mãe tem que educar o filho em casa e não mandar uma fera dessas para as professoras. Mas ao invés de admitirem que estão falhando na educação dos filhos, preferem ir até a escola, agredir as professoras, e assim, os alunos se sentem no direito de fazer o que quiserem dentro de sala de aula - menos estudar.
Enfim, não bastará dar um excelente material didático para os alunos; precisa-se também motivar e preparar os professores para trabalharem com esse material e principalmente, que nós mães (e eu me incluo, porque conheço bem a minha cria) façamos a nossa parte, exigindo que nossos filhos tenham educação e respeito por seus mestres e mestras, pois eles são pagos para instruir, não para aguentar.
E parabéns à prefeitura, pela iniciativa, espero que os resultados sejam tão bons quanto a vontade de melhorar a educação.
E Anastasia, por favor né? É uma vergonha um estado administrado por um professor estar com a educação do jeito que está...
4 Comentários
Muito bem,Jessie, gostei do texto. (Já faz dois anos que terminei o doutorado, rs). Legalmente está tudo bem. Acho que também é interessante vermos o lado positivo da prefeitura que resolver tomar uma atitude no sentido de tentar melhorar o ensino público. Contudo, não consigo deixar de pensar que há, neste caso, um jogo de interesses enormes e que, em última instância, não adianta trocar o material se os professores não tiverem condições de trabalho como vc bem lembrou. É importante que se verifique tudo, desde o valor pago pelo material até a assistência pedagógica que o Sistema Cenecista vai dar para os professores da rede (palestras, cursos, etc). No mais, espero que dê certo!
ResponderExcluirBom post! Está rico de opniões porém todas contrárias. Ficou bem clara sua insatisfação.
ResponderExcluirQto a lei q permite a ausencia de licitação td bem, mas passar a avaliar o proprio material é estranho.
Estudei da 2ª a 8ª no Dr. José Ferreira e sou muito grato aos meus pais por isso. Só sai de lá pq tive a opção de cursar uma escola técnica de periodo integral que sem dúvida fez a diferença pra mim.
Sou defensor de todo secundarista cursar técnico para não cair de paraquedas no mercado.
José Adolfo, eu estou empolgadíssima com a idéia de que meu filho estudará com o material cenecista. Mas não posso ignorar todo o resto e isso inclui preparação dos professores (a grande maioria dos concursados vão começar agora), as condições de trabalho para eles, e sim, vai ser muito triste ver essas crianças terem uma base excelente (se o sistema der certo e eu torço muito pra que dê)e irem pra um segundo grau vagabundo como o que tem sido oferecido pelo governo Estadual. Mas de toda forma, a prefeitura e sua secretaria de educação realmente merecem os parabéns pela iniciativa, é uma administração que pelo menos tenta mudar o quadro da educação na cidade. Falhou no quesito construção de escolas, mas operou diversas mudanças em busca da melhoria do ensino.
ResponderExcluirNa verdade, eu fiquei extremamente surpreso com essa atitude da prefeitura de Uberaba. Se há muitos problemas para serem resolvidos ainda pela educação pública, todos sabemos. Mas tomar uma atitude no sentido de tentar adequar o material didático às avaliações já é um começo. Fico feliz! Abraços, Jessie!
ResponderExcluirQuanto às crianças mal educadas... Deus sabe lá onde isso vai parar!