Mais que a mentira, uma oportunidade salvadora

Marilyn Monroe e Adele Jergens em Mentira Salvadora (Ladies of the Chorus)

No dia 04 de agosto de 62, sessenta anos atrás, perdíamos Marilyn Monroe. Posto aqui o texto que escrevi para o catálogo Marilyn Monroe: a maior estrela de Hollywood, de 2020.
 

Ladies of the Chorus (Mentira Salvadora) poderia ser esquecível. Desprovido de imaginação, orçamento, tempo de produção e com uma estética ultrapassada para a época, o filme nos conduz por um pequeno mundo de dançarinas burlescas, em que mãe e filha são coristas. Mae Martin (Adele Jergens), tenta proteger sua filha Peggy (Marilyn Monroe) de aproveitadores galantes ao mesmo tempo em que lhe entrega uma oportunidade de ser a estrela do show.

A película que deveria ser sobre a carreira e desventuras amorosas e maternais de Mae foi salva do esquecimento graças à presença de uma jovem e inexperiente Marilyn Monroe. Ainda muito mais Norma que o furacão louro dos anos seguintes, Marilyn vinha de uma curta e improdutiva temporada de figuração irrelevante no 20th Century Studios.

Desse período, o mais valioso para o currículo de Marilyn foi o contato com o poderoso executivo de Hollywood, Joseph Schenck. Foi ele quem conseguiu para a bela e desempregada atriz iniciante, o papel de Peggy Martin. Pela primeira vez então, ela foi creditada em um cartaz, teve seu primeiro beijo em cena e pode se dar ao luxo de, além de falas com mais de duas ou três palavras, cantar e dançar.


E é dançando e cantando que Marilyn nos arrebata. Os olhos muito abertos, a voz clara e vibrante, os movimentos fluídos nas coreografias. A pouca expressividade cênica, que faz com que independente do estado de espírito ela pareça pronta a irromper em sorrisos largos, é facilmente ignorada quando Monroe se entrega aos números musicais. A mistura de inocência e sensualidade já está lá, só que ainda de uma forma mais espontânea e menos estudada que em trabalhos seguintes.

Mentira Salvadora é um filme sobre a maternidade idealizada, que se sacrifica pela felicidade dos filhos. Provavelmente tenha sido a única oportunidade de Marilyn sentir o que é ter uma mãe amorosa. E talvez seja por isso que ela, ao longo de todo o filme, pareça irremediavelmente feliz.


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