Viola Davis, Nelson Rodrigues e um Beijo no Asfalto



Num rotineiro despertar na madrugada do dia 8 para o dia 9 de agosto, entro no Twitter e me deparo com um tuíte de Viola Davis, retuitando uma notícia do Deadline – portal especializado em notícias relacionadas à sétima arte – que anunciava que ela estaria envolvida na produção de adaptações da peça rodrigueana O Beijo no Asfalto. E eu me senti invadida da mesma euforia com que ela anunciava o projeto.




Nelson Rodrigues, foi escritor, dramaturgo e jornalista. Filho do também jornalista Mário Rodrigues e de Maria Esther Falcão, o escritor nasceu em Recife, Pernambuco em 1912. Fugindo de perseguições políticas, Mário levou a família para o Rio de Janeiro, onde Nelson viveu até o fim, em 1980. Sua obra é uma das nossas maiores riquezas, vasta e incendiária que se perpetua através dos anos - a matéria do Deadline o descreve como “muitas vezes referido como Shakespeare brasileiro” - se mantendo desesperadoramente atual. O Beijo no Asfalto, peça escrita por Nelson sessenta anos atrás é exatamente isso: atual, desesperadora, crua e ao mesmo tempo, extremamente sofisticada.

Nelson Rodrigues - Foto do Arquivo Público de São Paulo

A trama de O Beijo no Asfalto se desenvolve a partir do espírito cristão e caridoso de Arandir, que atende ao último desejo de um desconhecido agonizante após ser atropelado: ele quer um beijo antes de morrer. O ato de piedade de Arandir desencadeia toda uma trama repleta de mentiras e mesquinharias, exploradas pela polícia, mídia e sociedade, transformando bruscamente e definitivamente a vida de Arandir e sua família.

Abordando Fake News antes de qualquer hipótese de criação do termo, truculência policial, condução ilícita de investigação criminal, homofobia e machismo, O Beijo no Asfalto se comunica dolorosamente bem com os dias atuais e é uma escolha mais que acertada de Davis e sua JuVee Productions em parceria com a Wise Entertainment, co-fundada por Maurício Mota, neto de Nelson Rodrigues. O projeto contempla a produção de O Beijo no Asfalto não só para os palcos, mas também para o cinema norte-americano

Julian Tennon e Viola Davis, sócios na JuVee Productions - Shutterstock

“Quando Mauricio e Katie conversaram comigo sobre essa colaboração especial da obra de seu avô, fiquei emocionado. Temos objetivos semelhantes e nossas vozes coletivas ressoam no espírito do tempo e em todo o mundo no que se refere à narração narrativa com pessoas de cor ”, disse Julius Tennon, co-presidente da JuVee Productions. “Eu compartilhei isso com Viola e ela está tão empolgada quanto eu. Então, nós, coletivamente, como equipe, estamos avançando e servindo o melhor de Nelson Rodrigues”. Trecho extraído da matéria publicada no Deadline.

No Brasil, a peça já ganhou a grande tela em três ocasiões; 1964 com O Beijo com direção de Flávio Tambellini (pai), tendo nos papéis centrais Reginaldo Faria, Norma Blum, Xandó Batista e Jorge Dória. Em 1981 a segunda montagem com direção de Bruno Barreto teve em seu elenco Ney Latorraca, Christiane Torloni, Tarcísio Meira, Daniel Filho, Oswaldo Loureiro, Lídia Brondi e Caio Brossa. E recentemente, em 2018, Murilo Benício dirigiu a história do beijo de Arandir tendo em seu elenco Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Débora Falabella, Stênio Garcia, Otávio Muller, Luiza Tiso, Marcelo Flores, Arlindo Lopes e Amir Haddad. A produção norte-americana ainda não tem um elenco ou data de estreia definidos, mas acredito que em breve, teremos mais notícias.

Cena de "O Beijo" - Para assistir ao filme, clique aqui

Cena de "O beijo no asfalto" (1980) - para assistir ao filme, clique aqui

Trailer de "O Beijo no Asfalto" (2018). - Está disponível no Youtube a partir de R$6,90

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Se morremos no dia a dia, sobrevivemos eternizados na arte. Vida longa à obra do Anjo Pornográfico!
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