Nota de esclarecimento da Cia Rogê em resposta à presidente da Fundação Cultural de Uberaba



No último sábado, aconteceu em Uberaba a reestréia do espetáculo Brazil com Z da Cia Rogê de teatro. Nós do Mineira sem Freio, assim como vários outros profissionais e veículos de imprensa, noticiamos a apresentação que foi adaptada para a rua. Sim, pois é diferente uma peça de palco, onde o público está concentrado à sua frente e um espetáculo de arena, quando se está cercado pelo público.

No entanto, provavelmente diante da repercussão positiva a presidente da Fundação Cultural de Uberaba se manifestou, infelizmente de maneira desfavorável ao espetáculo.

Compartilho aqui a nota de esclarecimento da Cia Rogê. E estendo o convite de seus integrantes a todos que queiram participar de um debate aberto sobre a peça, que está programado para o próximo dia 05 de abril, às 14h na Livraria Alternativa Cultural, na rua Major Eustáquio, n. 500.

(Extraído na íntegra, do blog Canal Glitter)

No último domingo (30 de março), a presidente da Fundação Cultural de Uberaba - Sumayra Oliveira - postou em sua página pessoal, numa rede social, o conteúdo expresso abaixo.



A Cia Rogê recebe, estarrecida, tais declarações!

Como bem frisamos no release enviado à imprensa e ao público, através de blogs e redes sociais, “... a cia. Rogê convida o público para se responsabilizar pela cidade e pelo seu cenário cultural. Artistas, produtores, gestores públicos e cidadãos podem (e devem) dialogar de modo transparente e franco para promover o acesso e valorização da(s) cultura(s). Brazil com Z não é uma resposta para este movimento que carece de protagonistas, mas uma pergunta, a todos aqueles que não se conformam...”, Brazil com Z foi mesmo concebido para fazer perguntas e provocar reflexões.

Desde o início, sabíamos que expor e explorar feridas culturais não só da nossa cidade, mas do nosso país, provocaria reações das mais diversas. E assumimos esta responsabilidade desenvolvendo um trabalho sério e corajoso.

Nos causa espanto, portanto, que o debate seja agora iniciado de forma tão infundada e arbritária.

Vamos, primeiramente, aos tópicos levantados no texto publicado pela Presidente:

1 - Sobre viagens com o apoio do poder público: Não compreendemos a relação entre produzir e apresentar Brazil com Z, com o apoio recebido em espetáculos anteriores, onde representamos Uberaba nos Festivais de Teatro. Gostaríamos que a Presidente fosse mais objetiva. E só a título de informação: no ano passado (2013), a Cia Rogê realizou três viagens (Congonhas do Campo-MG, Patrocínio-MG, Praia Grande-SP) e em apenas uma delas (Congonhas do Campo-MG) viajoucom ônibus cedido pela Fundação Cultural. Em todas as outras, viajamos com recursos próprios.

2 - Ocupação constante dos Equipamentos Culturais da Prefeitura: Mais uma vez não compreendemos a relação entre o espetáculo e o uso dos Equipamentos Culturais públicos. A Cia. Rogê sempre se apresentou em espaços públicos e privados. E sempre creditamos os apoios acordados com os responsáveis por esses espaços. No último sábado, quando apresentamos o espetáculo Brazil com Z, ao final da peça agradecemos o empréstimo do Teatro pela Fundação Cultural de Uberaba.

Entendemos por espaço público um ambiente que seja de uso comum e posse de todos. E é nesse espaço que se desenvolve atividades coletivas, proporcionando convívios e trocas entre os grupos diversos que compõem a heterogeneidade da sociedade urbana, independente de tendências políticas e ideológicas da gestão desses espaços.

3 - Sobre ter ou não ter capacidade para lotar as 900 poltronas do Theatro Municipal Vera Cruz: Todo grupo de teatro deseja que seu trabalho seja alcançado pelo maior número de pessoas. Mas lotar um teatro não deve jamais pautar a produção de um grupo de teatro. O verdadeiro ator defende seu personagem para uma, para duas ou para novecentas pessoas com o mesmo empenho e vontade.

Além do que, pensar o teatro como uma simples operação matemática, atende uma lógica de mercado cruel que impede que espetáculos como Brazil com Z saiam do papel. Este discurso não deveria, portanto, pertencer a uma gestora que representa um espaço público.

A Cia Rogê sempre confiou em seu trabalho, nunca temeu correr riscos. Uma das nossas marcas foi e será sempre a ousadia. E a despeito do que pensam alguns, temos um público que se identifica com o que a gente faz e que responde, calorosamente, a todos os nossos projetos.

E só pra constar: na FLU: Festa Literária de Uberaba do ano passado, nosso espetáculo recebeu o maior público da Festa superando, inclusive, o encontro com o já consagrado escritor Maurício de Souza.

4 - Sobre levar o espetáculo de última hora para rua: O espetáculo não foi levado de última hora pra rua. Desde a primeira divulgação pública da apresentação, informamos com clareza que o espetáculo seria apresentado na CALÇADA do Theatro Municipal Vera Cruz. Inclusive reforçamos isso em nossa entrevista ao vivo, no MGTV 1ª edição, que foi ao ar no dia 28 de março de 2014, pela Rede Integração.

Fizemos a solicitação do Theatro para que não acontecesse o constrangimento de duas apresentações simultâneas: uma no palco e a nossa, na calçada.

5 - Sobre dizer que fomos expulsos do Teatro: Gostaríamos que a Presidente esclarecesse a origem dessa informação, pois ela é não é verídica. Em momento algum dissemos que fomos expulsos do teatro.
No entanto, no primeiro quadro do espetáculo, a Família Trololó é expulsa da cidade. Se a Presidente tivesse ido assistir ao espetáculo, entenderia o contexto e o enredo em que esta cena aparece.

Mais uma vez frisamos: a expulsão da Família Trololó do Teatro foi/é simbólica! Não entende isso apenas quem não se dispôs a assistir ao espetáculo (e, ainda assim, quer emitir juízo sobre ele).

TEATRO É SUBTEXTO! É LER NAS ENTRELINHAS!

6- Sobre não ter o mínimo de ética e caráter: Nos últimos nove anos, a Cia Rogê tem participado ativamente do cenário cultural da cidade de Uberaba. Se não tivéssemos o mínimo de ética ou caráter, não teríamos chegado onde chegamos. Além do que, não é esse o enfoque que queremos dar às nossas discussões.

Por fim declaramos que Brazil com Z não traz um texto maldoso e muito menos produzido com o objetivo de manipular opiniões. Temos consciência do que produzimos.

Gostaríamos que os discursos - tanto de quem defende, como de quem é contra o espetáculo - evitassem esse maniqueísmo baseado em binarismos de oposição, tão comuns no meio político brasileiro e que não agregam nada. Muito pelo contrário: são danosos, simplistas e inférteis.

Agradecemos ao público que veio à rua nos aplaudir e a todos os amigos e profissionais envolvidos na produção do espetáculo. Esperamos que em breve ele seja reapresentado.

Até lá, aproveitamos a oportunidade para convidar a Presidente da Fundação Cultural de Uberaba, o público presente e demais interessados para um debate aberto sobre o espetáculo Brazil com Z, que acontecerá no próximo sábado 5 de abril às 14h na Alternativa Cultural (R. Major Eustáquio, 500).


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