Carta aberta à imprensa e aos “promotores de cultura” de Uberaba

Por: Cíntia Cerqueira Cunha

 Moro em Uberaba há 24 ANOS! VINTE E QUATRO ANOS! Vou tentar “explicar”. Como muitos, que fizeram e fazem a riqueza dessa cidade e desse país, sou considerada uma “forasteira”. Forasteira por quê? Porque não assino os sobrenomes tradicionais da cidade ou não faço parte da high societyfalida ou dos nouveaux riches que (mesmo – muitas vezes – também forasteiros) ganham notoriedade pelo vulto de suas contas bancárias ou de suas posições “temporárias”.

Em relação à cultura “uberabense”, o que vejo? Vejo alguns bravos escudeiros trabalhando sozinhos em suas lutas perdidas promovendo espetáculos cada vez mais esvaziados pela pobreza. Pobreza financeira? Não! Pobreza intelectual que leva multidões embevecidas às promoções natalescas do “chopis centis” de uma Uberaba cada vez mais fechada em suas inveteradas mazelas da tradição “sertaneja”.

Mas há uma triste evidência (que não é apenas local). De sertaneja mesmo, Uberaba não tem mais nem as botas!! Só sobraram os agroboys com suas músicas enlatadas que traduzem uma realidade camuflada pela indústria da cultura “country”. Cultura de massa essa agora que, além de estrangeira, é também “universitária”!! Sem ofensas... É só um exemplo que atende bem às expectativas atuais de parte do mercado fonográfico brasileiro, para ser mais precisa.

Roqueiros reunidos em prol da revitalização da Concha Acústica - Foto de Junior Bertoldihttps://www.facebook.com/junimbertoldi


Aqui e em toda parte do Brasil, roqueiro é sinônimo de encrenca. Mas me pergunto: “Encrenca, por quê?”. Se forem levantadas estatísticas não oficiais – porque simplesmente não há números oficiais nesse sentido –, é claro, veremos que praticamente inexistem confusões, selvagerias e Boletins de Ocorrência envolvendo “arrasta-faca” entre os amantes do rock, sejam eles “metaleiros” ou adeptos a quaisquer outros gêneros do meio. Isso por uma simples constatação: roqueiro se reúne pela música, não pelo embate de suas mazelas emocionais, afetivas, amorosas ou sociais...tsc..tsc. E não me venha falar que cultuamos música de gringo: rock é um estilo de vida, em português, inglês, finlandês, alemão ou hebraico. Ponto.

Bem. Hoje, dia 5 de dezembro de 2013, vi uma cena inóspita em mais uma luta (me desculpe, ainda perdida) da cena rock uberabense. Cerca de 150 pessoas bem-intencionadas (acho que tô exagerando no número), entre jovens e dinossauros da cena, como eu, se reuniram na Concha Acústica. Esse espaço cultural, até a nossa chegada, era ocupado por um único nobre cidadão: um filho de Deus aparentemente sem teto, relegado ao chão pútrido de uma armação de concreto jogada às traças. (Tá bem, fui deveras dramática agora!). O jovem mendigo, embora acordado pelo burburinho, não se incomodou com a nossa inocente presença, é óbvio! (Para relembrar: roqueiro não costuma arrumar encrencas!).

Algumas averiguações desse encontro num sábado de sol (e que sol!!!). A imprensa não estava lá por motivos notórios: roqueiro não dá “ibope”. O poder público, também não: afinal, roqueiro não faz dinheiro (a rima infeliz parece traduzir o pensamento dos “visionários” da política uberabense). Mas não ver os rostos de alguns “expoentes” da cena rock local realmente me incomodou. Afinal, essa desunião latente só enfraquece ainda mais o movimento.

Pensar que líderes de bandas (muitas), músicos profissionais e os empresários locais (que praticamente vivem do rock entoado pelas bandas da cidade) também não estavam lá me trazem tristes indagações. Somos todos rebeldes sem causa? É tudo tempo perdido? Estamos ainda cometendo os primeiros erros? A gente “somos” inútil? Vamos viver eternamente em um faroeste caboclo? Até quando esperar? Desculpe...Sou ROQUEIRA!!! Não quero outra ideologia pra viver! Hey, ho! Let’s go!





* Adepta do gênero heavy metal há 31 anos, ela é jornalista por formação e só tem alguma voz em parte (pequena) da sociedade porque é professora universitária com mestrado em Comunicação na Contemporaneidade. Bah!

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