Maconha: a quem realmente interessa



Ontem assistindo à novela Insensato Coração, vejo uma roda de samba comandada por Marcelo D2, onde de três músicas cantadas, duas eram do repertório de Bezerra da Silva relacionadas à maconha.

Pois é pessoas, a maconha vai ser descriminalizada e provavelmente em poucos anos legalizada. E não pensem que foi por pressão de um ou outro evento realizado por usuários ou pessoas que defendam a descriminilização. Há interesses bem maiores. O que os meios de comunicação em especial a Globo fazem ao colocar um cantor que teve diversos problemas por defender a legalização da droga, cantando canções que remetem à ela em horário nobre, ou ainda, coloca um ex presidente, sociólogo respeitado no mundo, colocando abertamente seu posicionamento favorável à erva, é simplesmente ir acostumando a população com a idéia de que a maconha em breve será uma droga legal, assim como cigarro ou bebida. Fazendo com que as pessoas sintam-se mais tolerantes em relação à maconha, fica bem mais fácil aprovar as leis relativas a ela, por que a resistência popular, se houver, será bem menor.



Esse interesse na legalização da maconha, não é privilégio brasileiro. Nos Estados Unidos essa discussão também ocupa espaço; a maconha já é considerada o "maior" produto agrícola norte americano se levado em conta seu valor comercial, segundo levantamento feito por Jon Gettman, PhD em Política Pública da George Mason University, na Virgínia do Norte, e líder da Coalizão para Reclassificação da Cannabis. Nos Estados Unidos, o uso medicinal da maconha já é legalizado em alguns estados e seu consumo não medicinal é tolerado em outros, sendo passível de sanções leves.

Há ainda a questão do cânhamo; legalizar a maconha facilita o cultivo e comercialização da fibra utilizada para fabricação de tecidos, calçados, cordas e papel por exemplo. Alguns países permitem o cultivo do cânhamo, mas na maioria deles o cultivo da planta que também é uma cannabis, é regulamentado ou proibido devido ao status de droga que a maconha possui.

É fato de que os governos perderam a batalha contra o tráfico e os gastos com o combate à droga e a manutenção de presos por tráfico começam a ser vistos como algo que pode ser evitado. Legalizar o consumo, seria um primeiro passo para a tributação da droga e aí, ao invés de gerar gastos, geraria impostos. Sem contar que possibilitaria também o uso medicinal ou mesmo outras formas, como o leite feito de maconha, já popular no Canadá. Rico em aminoácidos e ômega 3 e 6 é uma opção a mais para pessoas com intolerância à lactose, e ainda conta com a vantagem de ter um sabor mais agradável que o leite de soja (o leite de maconha tem um leve sabor de nozes). No Canadá o cultivo é legalizado e controlado, e o leite é feito apartir das sementes da erva, que não possuem THC (tetrahidrocanabinol, molécula psicoativa da planta).

Enfim, vários aspectos positivos da legalização, ainda são ofuscados pelo aspecto positivo. Imaginem esse leite sendo comercializado no Brasil, imagina se mães comprariam? A sensação de estar drogando bebês, mesmo não havendo nenhuma substância psicotrópica no leite é algo que vai levar algum tempo para ser superada. Os pais teriam medo de comprar cadernos feitos de cânhamo para seus filhos, por medo de que enrolar uma folha do caderno e fumá-la passe a ser hábito.

Essas mudanças no consciente coletivo são feitas a longo prazo. O mesmo Fantástico que há alguns anos exibia escandalizado o "Rap das Armas" e o colocava como música proibida, pouco tempo depois teve que se render à trilha sonora de Tropa de Elite; e o mesmo Fantástico que já fez centenas de matérias sobre o tráfico, coloca Fernando Henrique Cardoso defendendo a descriminilização da erva, e assim, os conceitos vão se transformando na sociedade. É um processo lento, demorado mas eficaz .

Eu compreendo todos os bons motivos para se legalizar a droga, mas como ex mulher de um viciado sinto medo. E aqui, aguardo os próximos capítulos, de uma batalha que governo e meios de comunicação, fingem ser da sociedade.

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