Goiânia e o Césio 137 - 24 anos

Leide das Neves, símbolo do acidente radioativo de Goiânia - 1987

Eu tinha nove anos quando ocorreu o acidente com césio 137 em Goiânia. Tínhamos um amigo da família que constantemente ia para lá, e a determinação dele em ir até Goiânia naqueles tempos, era para a gente quase como uma tentativa de suicídio do tio Hélio.

Foi em setembro, dia 13 de setembro de 1987. Catadores de papel, encontraram num prédio hospitalar abandonado, um equipamento utilizado em radioterapias. Achando se tratar de sucata comum, venderam a um ferro velho, começando uma trilha de contaminação entre funcionários, parentes e amigos de Devair dono do ferro velho. Os médicos nem suspeitando do que estava acontecendo, tratavam os sintomas, até que a esposa de Devair suspeitou ser o pó brilhante que eles tão orgulhosamente exibiam, o causador dos sintomas que apresentavam; em 29 de setembro, depois de a cápsula passar dois dias largada sobre uma cadeira da Vigilância Sanitária, o alarme de contaminação radioativa foi dado; no mês seguinte, em 23 de outubro, Maria Gabriela, esposa de Devair, faleceu devido às complicações causadas pela contaminação.

Foi um período de pânico, e que desencadeou as discussões sobre o lixo radioativo; e passados quase 24 completos dessa tragédia, creio que o Brasil continua despreocupadamente despreparado para outro acidente radioativo...Ver o acidente radioativo no Japão, reacende a sensação de medo de mais de duas décadas atrás, por mais distante que esteja eu sinto medo. Esse tipo de acidente, tem consequências que se arrastam por gerações, não é um momento de dor; são, serão vidas inteiras.

Leia mais sobre o acidente radioativo de Goiânia

Entrevista com Lourdes das Neves, cunhada de Devair e mãe da menina Leide

Especial Linha Direta sobre o acidente com Césio 137 em Goiânia

Enterro da menina Leide das Neves - o caixão da menina pesava 700 kg, devido a camada de chumbo usada para isolar a radiação. Moradores do entorno do cemitério tentaram evitar o enterro de Leide e Maria Gabriela numa manifestação violenta.

"A ignorância é vizinha da maldade"

Renato Russo