Centenas de garotos e um vestido

O um dos assuntos da semana foi o tal vestido rosa choque, que levou uma aluna a ser escoltada pela polícia para fora da faculdade, devido ao alvoroço causado entre os alunos.

O foco da discussão tem sido o direito de a garota se vestir como quiser, afinal o Brasil é um país livre, uma democracia.

Eu digo que justamente por ser um país livre, onde as pessoas podem se expressar como bem entenderem, que aqueles garotos também estavam no direito deles. Afinal, da mesma maneira que ela tem o direito de se vestir como bem quiser, eles também tem o direito de reagir como bem entenderem.

Estavam certos? Tanto quanto ela. Agora cada um avalia a situação de acordo com sua própria noção de ética e moral, então pra uns a garota estava certa e os estudantes errados, pra outros ela estava errada e eles certos, ou ambos estavam certos ou ambos estavam errados. Quando digo que tanto ela quanto eles estavam certos, simplesmente me apoio no fato de que o Brasil é um país de livre expressão.
Isso leva à discussão sobre ética e moral, serem coisas variáveis, de acordo com a comunidade onde são praticadas. Na universidade onde estudo, muitas alunas frequentam as aulas, seja de manhã seja à tarde, seja à noite com roupas tão ou mais curtas que o vestido rosa da aluna de turismo, simplesmente ninguém se importa; como Uberaba é uma cidade onde faz um calor considerável, ninguém se sente constrangido, agredido ou estimulado sexualmente por isso, e se chega a sentir qualquer uma dessas reações, guarda para si.

Somos melhores que os alunos da outra faculdade? Não, simplesmente temos reações diferentes diante do direito do outro.

Aquele vestido é problemático; por mais que na foto posada, depois que a pobre moça passou a dar várias entrevistas o vestido esteja quase nos joelhos, aquele vestido não fica esticadinho daquele jeito; ele sobe crianças, sobe pra ficar na altura da virilha e a parte superior ficar folgadinha, quase cobrindo a faixa mais justa. Pra sentar vocês nem imaginam a dificuldade que é.

Dos tempos em que fui hippie, guardei o gosto pelos saiões indianos que uso para ir a qualquer lugar, inclusive a faculdade, são confortáveis, me dão liberdade de movimentos e de me sentar como bem me convir e mesmo usando essas saias até as canelas, acabo chamando a atenção.

Em sua defesa a aluna disse costumar se vestir assim. Ontem discutindo sobre esse assunto com meu amigo Rafa eu perguntei a ele se caso ela fosse vestida daquela forma para uma entrevista de emprego, se ela seria admitida, ao que ele me respondeu "se fosse um homem a fazer a entrevista a contrataria". Respondi então que sendo assim, pelo tom machista do comentário dele, que o contratante também estaria chamando a garota de prostituta, só que de maneira subjetiva. Mudando a cena, será que se um homem tivesse chegado à faculdade sem camisa, teria entrado também?

Conviver em sociedade, exige que lidemos com o melhor e o pior de cada pessoa, não somos perfeitos nem podemos esperar perfeição dos que nos cercam; se temos nossos direitos, os outros também os tem e o direito de um acaba onde começa o direito do outro.

Ela é uma jovem de 20 anos, logo já é responsável por seus atos e ser responsável por seus atos, é também assumir as consequências de seus atos, todo efeito tem uma causa primeira, nesse caso da faculdade, a causa foi um vestido rosa que teve por efeito uma reação intensa, desagradável (será? ela não me parece muito triste em ficar dando entrevistas...) e extremamente interessante de se discutir...


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