Resenhando GoT: Eastwatch



Atalaia Leste, ou Eastwatch é daqueles episódios que servem de cama para a treta deitar. E nesse caso, a cama precisou ser uma King Size, porque aconteceram tantas coisas que darão suporte aos acontecimentos vindouros, que eu já aviso que esse post será um senhor textão, porque de resenha isso aqui tá só o nome. #desculpa

O episódio começou com toda a nossa expectativa sobre o que aconteceria com Jaime, virando um WTF gigante ao ver Bronn tirar facilmente de dentro do rio, QUILÔMETROS DE DISTÂNCIA DO CENÁRIO DE BATALHA, um homem adulto, usando uma armadura completa além de uma mão de ouro. Mas tá né, a gente respira fundo, aumenta um pouco a suspensão de descrença e aceita (xinga um bocado mas aceita). Bronn dá aquele esporro maneiro, aquele esporro gostoso, jogando os memes de "não lutou contra o Montanha pelo Tyrion, mas enfrentou um dragão por Jaime" naquele lodinho à beira do rio. Amigos amigos, negócios à parte. É Bronn talvez o suspiro de sensatez que corre ao sul de Westeros. Não dá pra ganhar dela com esse bichão não camarada. Jaime já lança aquela cara de "tô ferrado, como vou contar pra Cersei" e passamos para seu dileto irmão que caminha entre os destroços e as cinzas.

Tyrion vê a extensão da destruição causada por Drogon. Pessoas, cavalos, armaduras, tudo reduzido a cinzas ainda fumegantes. O que me faz sentir saudades do Tyrion que era fascinado por Dragões, o Tyrion que lutou enquanto prisioneiro de Catelyn Stark no caminho para o Vale, saudades do Tyrion que tramou a morte e destruição de centenas de homens na Batalha da Água Negra, lançando mão do Fogo Verde, tão letal e destruidor quanto o fogo de dragão. Aquele Tyrion não faria tanta cara de cachorro que caiu da mudança.
Tyrion caminha boladaço entre as cinzas do que sobrou da batalha com os exércitos de Cersei

E vemos Drogon confortavelmente acomodado no plano de fundo (dar um respiro pro orçamento de vez em quando é bom né galera) enquanto Daenerys recita seu discurso de vencedora. Ver como o medo dobra mais joelhos do que as meras palavras foi bem divertido. Unam-se à Rainha Dragão ou morra, simples assim os termos. Randyl Tarly acreditando no bom senso do filho, decide bater o pezinho e não se render. Enquanto os Dothraki levam o velho lorde, Tyrion tenta ponderar. Mas não é hora para Daenerys enfraquecer a própria palavra. Aí o burro do Dickon resolve ter ataque de homisse também e se recusa a aceitar os termos da Nascida na Tormenta. Randyll lança um olhar de reprovação para o filho, como que tentando demovê-lo do vacilo de deixar a Casa Tarly sem um Lord. Mas o menino faz jus ao nome e vira churrasquinho junto com o pai. E nessa hora, se ainda tinha alguém que não havia se curvado e jurado lealdade à Daenerys Targaryen, se ajoelhou com cavalo e tudo.

Jaime chega a Porto Real para dizer à Cersei o que ela já sabe e mais algumas novidades. Nâo é a perda de exércitos ou de carroças que desmancha sua máscara fria. Nem a iminente derrota para Daenerys. É a constatação da verdade de que foi Olenna e não Tyrion quem envenenou e matou Joffrey que nos entrega um dos melhores momentos em termos de atuação do episódio. A dor vai num crescente da voz de Jaime para os olhos de Cersei, que obviamente não deixa barato e lança sua raiva contra Jaime, por ele tê-la convencido a dar uma morte suave à Rainha dos Espinhos.

"Lutar e morrer ou se entregar e morrer. Eu sei a minha escolha. Um soldado deveria saber a sua."

De carona nas Aerolíneas Drogon, voltamos a Pedra do Dragão para o momento cute cute (ou for dummies, depende da visão de quem assistiu) onde Drogon sente o cheiro Targaryen que corre nas veias de Jon e se deixa acariciar, fazendo com que mamãe Dany se derreta toda entre as suas dúvidas: como what a hell esse bastardo não teve medo e ainda tocou meu dragão?



Canonicamente, nas Crônicas de Gelo e Fogo, um dragão só se liga a um humano enquanto este estiver vivo. Ou seja, para Jon montar Drogon, Daenerys precisaria morrer. Mas como a série já virou uma antologia de Carlos Drummond de Andrade de tanta licença poética, não me surpreenderia que tal coisa venha a acontecer, mesmo dona Daenerys tendo mais dois dragões. Ele naquele jeito meigo de nortenho chama os dragões de bestas e ela retruca: "Não são bestas. Por mais que cresçam e sejam assustadores para as outras pessoas, ELES SÃO MEUS FILHOS". Conversa sobre a guerras, sobre matar o inimigo quando necessário. A Rainha Targaryen tem plena consciência do que está acontecendo, do preço a se pagar e dos espólios a recolher, doces ou amargos. Ela tenta voltar ao assunto da facada no coração, mas Jon não se sente à vontade para dizer que é alguém que voltou dos mortos e tenta mudar de assunto quando é convenientemente salvo pela chegada de Sor Jorah Mormont.

Jorah chega, diz que tá curado, que voltou pra ela, a Dany se derrete toda, fica aquela torta de climão com o ciuminho estampado na cara do Jon. "Eu servi com seu pai. Era um grande homem (por dentro, Jon arrematou essa frase com um 'ao contrário de você, miséravel')". É curioso ver que também no rosto do ator Ian Glenn - assim como aconteceu com as crianças Stark - é possível ver a passagem dos anos não só ficcionais, mas também de gravações da série. Mas está ali, ainda que envelhecido, o mesmo sor Jorah Mormont, disposto a matar e morrer por sua Khaleesi.

Como o diabo está sempre nos detalhes, temos o corte para o norte e a maravilhosa cena dos corvos. O piscar de olhos brancos mostra a velocidade com que Bran vai de um corvo ao outro, buscando notícias do exército de Mortos Vivos. E "à passos de formiga e sem vontade" eles vão lentamente em direção de Atalaia Leste. Bran se sente visto pelo Rei da Noite e decide enviar corvos avisando sobre o perigo.

Aí somos levados até a Oldtown, onde aqueles malditos meistres estão reunidos debochando tediosamente da carta enviada por Bran. Novamente me lembro das escravas de Daenerys lá na primeira temporada repetindo feito duas maritacas o tal do "é sabido". Para eles, nada que fuja do seu conhecimento deve ser levado em consideração. Sabem que a magia voltou ao mundo, que Dragões sobrevoam Westeros, mas um exército de mortos não deve ser levado em consideração. Samwel Tarly fica mais full pistola do que eu e tenta argumentar. Sem sucesso, como sempre.

Voltamos à Dragonstone onde Tyrion e Varys tem mais um acesso tardio de peso na consciência e tentam encontrar um jeito de fazer Daenerys não sair torrando todo mundo pelo caminho. Os dois fuxiqueiros ainda conversam sobre a carta lacrada que Bran enviou ao irmão e que Varys safadamente conseguiu ler sem deixar vestígios da indiscrição. Jon sente o baque de saber que Bran e Arya estão vivos. E eu sei que esse texto já está desnecessariamente grande, mas preciso fazer uma observação.

Vi muita gente questionando Jon não saber que Bran estava vivo, sendo que Sam o encontrou para lá da Muralha. Eu acho muito simples e justificável: Bran não queria que Jon soubesse que ele estava ali e Sam não falou nada por saber que sim, Jon sairia que nem um maluco atrás do irmão.

Voltando ao assunto da carta, Jon percebe que já perdeu tempo demais brincando de mineiro em Pedra do Dragão e decide voltar. Daenerys faz um beiço do tamanho de uma semana, diz que ele não tem homens suficientes, mas também não quer ir e deixar tudo de mão beijada para a rainha Lannister. Tyrion então tem a brilhante ideia (sqn) de que tragam uma prova de que o exército de Vagantes Brancos existe, se predispondo a ir conversar com Jaime em Porto Real, buscando uma trégua.

Claro que sobra para Sor Davos contrabandista velho de guerra enfiar o anão mais procurado do continente dentro de Kingsland para falar com o irmão. Na hora de decidir quem vai buscar o White Walker, Sor Jorah que quer mostrar serviço se oferece. Jon pula meio metro de altura e diz que ele é quem vai, Davos manda um "Cê tá louco" o beiço da Daenerys bate no chão e ela dá pitizinho dizendo que não deixou ele ir. E Jon só retruca que não precisa da autorização dela. De vez em quando ele lembra que é rei né?

Jon manda aquele "toma safada que hoje eu tô difícil" e decide voltar para o Norte
Para fazer de conta que o tempo está passando, corte para Winterfell onde Arya está desconfiada de Sansa. As duas nunca se deram bem, Arya está enciumada, achando que a irmã quer prejudicar Jon Snow e aí começa a dar defeitinho, caçando chifre em cabeça de cavalo. Claro que Petyr Baelish ia se aproveitar disso e tentar plantar a treta entre as irmãs. E usando a informação do atual meistre de Winterfell de que Meistre Luwin guardava cópias de todas as mensagens, Mindinho consegue desenterrar a carta que Cersei forçara Sansa a escrever ainda na primeira temporada:

Robb, te escrevo com o coração pesado. Nosso bom rei Robert está morto, em decorrência de várias feridas em uma caçada de javali. Nosso pai foi acusado de traição. Ele conspirou com os irmãos de Robert contra o meu querido Joffrey e tentou roubar seu trono. Os Lannisters estão me tratando muito bem e me proporcionaram todo o conforto. Eu lhe peço: venha para Porto Real, jure lealdade ao rei Joffrey e evite qualquer conflito entre as casas de Lannister e Stark.
Mas Arya não sabe que a carta, apesar de conter a letra de Sansa, tinha cada palavra saída da boca de Cersei, e só nos próximos episódios para saber se ela caiu na armação de Baelish ou não.

Voltando à vaca fria, Davos e Tyrion chegam a Kingsland e Davos já chega dando voadora no peito do anão, falando da morte de seu filho na Batalha da Água Negra. Tyrion leva na cara essa dor calada pelo dever e sente o gosto da culpa amargar sua boca. Mas não há tempo para DR e cada um toma seu rumo; Tyrion vai falar com Jaime e Davos vai atrás de algo... Ou alguém.

"Achei que estivesse remando até hoje". Uma das mais frequentes piadinhas dos fãs pula dos lábios do contrabandista ao encontrar Gendry. O bastardo Baratheon está ainda mais forte e mais puto e sem nem saber qual o propósito, decide partir com Davos para servir à Jon, com seu martelo de guerra. Vale lembrar que: (1) o martelo era a arma favorita de Robert e a que ele usou para matar Rhaegar Targaryen; (2) Gendry fora aprendiz do armeiro que transformou a Gelo de Ned Stark em duas espadas para Tywin Lannister. Ou seja, teremos alguém que sabe lidar com aço valiriano nas batalhas contra os Caminhantes Brancos.

Enquanto isso Bronn tapeia Jaime para que este se encontre com o irmão. A emoção do encontro é visível mas  não há mais tempo para sentimentalismos e Tyrion expõe todo o problema e pede que ele fale com Cersei, que já sabia do encontro e só estava esperando sair da boca de Jaime o que fora tratado com o anão. E para quebrar de vez as duas pernas do Regicida, Cersei anuncia sua gravidez.
Pronto, Jaime completamente em suas mãos mais uma vez.

Davos , Tyrion e Gendry se juntam a Jon e Jorah e partem para o norte. E sim, já tem gente shippando Jon e Gendry tal foi a simpatia instantânea entre os dois. O encontro remete ao diálogo de Robert e Ned nas criptas, onde um zombava da aparência do outro. Muito fofinho, mas como a série já determinou que o crush de Jon é a Nascida na Tormenta, vemos Daenerys muito balançada na partida do Rei do Norte e Jorah já aceitando que nem bem chegou, já voltou pra friendzone.

Nem bem chegou, Jorah já se despede novamente
Sem saber da morte do pai e do irmão e 200% pistola com os Meistres, Sam tenta encontrar uma solução para o problema dos Vagantes Brancos. E tanto está concentrado e exasperado com isso, que nem se dá conta quando Gilly ainda tropeçando nas palavras, lê o diário do Alto Septão Maynard que entre muitos e enfadonhos apontamentos inúteis, relata ter feito uma certa anulação de casamento.

Maynard diz que o príncipe Rhaegar teve seu casamento anulado e casou de novo, mas em uma cerimônia escondida em Dorne.

Como bem aprendeu com os Meistres, Samwel não dá a mínima para o que a garota diz. Mas toma uma decisão e na calada da noite rouba uma pá de pergaminhos e livros, toma sua mulher, seu filho e a espada que roubou de seu pai e deixa Oldtown. Sam cansou-se de ler sobre homens melhores do que ele.

Espero que a Gilly tenha levado o diário de Maynard consigo, afinal é a prova de que Jon Snow não é um bastardo e sim filho legítimo de Rhaegar Targaryen.

Aqui vai outra observação (tá acabando gente): O áudio original diz annulment, ou anulação, como foi reproduzido na legenda. Já a dublagem usa a palavra divórcio. Por mais que o certo aqui seja anulação mesmo, eu prefiro a palavra divórcio. Porque anular, significa tornar sem efeito seu casamento com Elia, o que faria com que seus dois filhos se tornassem ilegítimos. O que não aconteceria em um "divórcio". Em qualquer um dos casos, eu sinto muito por Elia, por seus filhos e por Oberyn que se culpou até a morte por não ter defendido a irmã, de tê-la entregue em casamento ao príncipe Targaryen. Mas isso é assunto para outro post.

Sem passadinha em Winterfell, a comitiva de Jon chega à Atalaia Leste (por mar é bem mais rápido). Lá é preciso contornar o stress entre Tormund e o antigo caçador de selvagens Jorah e o ódio de Gendry pela Irmandade Sem Bandeiras (confortavelmente instalada em uma cela). E claro, o desconforto do próprio Jon diante de Sandor Clegane. Mas há assuntos mais urgentes do que velhas feridas os esperando além da Muralha. E assim nosso esquadrão suicida de meia dúzia de candangos parte rumo ao exército de vagantes brancos.

E seja o que R'hllor quiser.



Trailer do próximo episódio


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