No primeiro episódio dessa sétima temporada, vimos o Arquimeistre Ebrose dizer a Sam que a memória é o que nos difere dos cachorros, pois graças à História, sabemos de onde viemos e para onde vamos. Stormborn, Nascida da Tormenta, traz toda a importância da construção histórica da série e prova que nem tudo nela, é tirado do nariz feito a frota de mil navios de Euron Greyjoy.
A filha do Rei Louco
Começamos com Daenerys em Pedra do Dragão, mostrando bem porque é a nascida na tormenta. Impaciente e voluntariosa, manter-se calma para não se tornar uma Rainha das Cinzas parece ser algo difícil demais para suportar. Ela não se sente em casa no castelo onde nasceu, deixando clara a sua frustração e colocando um ponto final nos questionamentos de parte do fandom de "ai, porque ela não chorou ao chegar em casa". Ali não é a casa dela, é o lugar para onde sua mãe fugiu para dar a luz e morrer. É o princípio do exílio, da desgraça, da perda de tudo, não tem como Daenerys sentir-se confortável, por mais que seja a casa ancestral dos Targaryen em Westeros. Ela finalmente tem o difícil diálogo com Varys, a mão que lhe escarra e lhe beija; o homem que arquitetou sua venda aos Dohtrakis, sua morte e sua volta lar.
Varys tem seu momento de honestidade e hombridade ao se declarar fiel ao povo e ao reino, e que incompetentes não devem ser premiados com lealdade. Resta saber o que de sincero houve em todo o resto de sua conversa com a Mãe dos Dragões. Um diálogo pautado no passado de ambos os personagens, onde fica bem claro, que estão lado a lado nesse momento, mas sem esquecer o que aconteceu antes.
Também em seu castelo, Daenerys se encontra com seus aliados para discutir os planos de batalha. Se por um lado Ellaria, Yara e Olenna Tyrell concordam que o melhor é atacar prontamente Kingsland, Tyrion julga mais prudente minar as forças de Cersei, fazendo um cerco à capital e tomando Casterly Rock. No papel o plano é bom, mas papel aceita qualquer coisa. Daenerys segue o conselho de Tyrion e determina a partida dos Imaculados para os domínios Lannister e que Yara conduza Ellaria e as Serpentes de Areia em segurança até Dorne para comandar os exércitos dorneses no cerco à capital.
E há o encontro da Quebradora de Correntes com Melisandre, que chega fazendo a maior média, falando em alto valeriano, se fazendo de humildona para conquistar a atenção da rainha. E consegue, mesmo sem cair na bajulação barata de proclamar Daenerys como "o príncipe/princesa prometido". Mel sabe que errou com Stannis, errou com Shereen e que o passado não pode ser mudado, mas o futuro pode ser tratado com mais sabedoria. Juntos, Melisandre e Tyrion convencem a Targaryen a convocar Jon Snow para uma aliança. Ela como não poderia deixar de ser, envia um corvo através de Tyrion para que o Rei do Norte se submeta.
Ai meus egos flamejantes.
A pausa poética em Dragonstone fica por conta de Verme Cinzento e Missandei, numa cena linda, com corpos lindos, com toda a tensão (e tesão) que existe, de mãos dadas com o medo, o medo de perder, o medo de não viver o que está gritando dentro do peito. E como eu disse no Facebook após o episódio acabar: quem reclama ou fica zoando a cena, puts, deve ser ruim de cama de dar dó.
Uma leoa acuada, pero no mucho
Em Kingsland Cersei banca o MBL e joga sobre os mestres o papinho de que Dani dos Dragões é louca feito o pai, vai destruir os sete reinos, dar as mulheres deles para os Dohtrakis, fome, destruição, estupro (nada que ela e seus homens dela já não tenham feito - lembram porque Ned determinou a caçada ao Montanha?). Enfim, ela joga com o medo para conquistar o apoio de lordes de casas menores contra o vultuoso exército e os três dragões de Daenerys. Os lordes não se mostram muito tentados a apoiá-la, afinal, não bastasse ter milhares de homens sob seu comando, Dany tem 3 fucking dragões. Como combater tamanha força? Cersei engole seco, mas é salva por Qyburn que deve ter importando anões ferreiros da Terra Média para construir uma balestra gigante, capaz de perfurar o duro crânio de um dragão. Cersei sorri feliz e passamos a um Jaime que além da mão parece ter perdido a hombridade e arrasta a bunda no chão tentando convencer Randill Tarly (isso mesmo, o pai do Sam) a ser seu general na guerra contra Olenna, afinal a campina está cheia de mantimentos e ouro - tudo que o Jaime e Cersei não tem e precisam - e é preciso defender o reino do perigo Targaryen. Randill joga um verde, dá altas indiretas em Jaime, tocando na ferida do Casamento Vermelho, mas o sim ou o não ficam em aberto.
Salve o urso
Sam continua sua saga de
"Eu sou a melhor chance que você tem".
Que funcione, apenas funcione.
Tortas quentes são reconfortantes
Apesar de todos termos perdido o apetite com a cena de Jorah somos transportados para o calor de uma taberna onde Arya encontra Hot Pie, seu antigo companheiro de fuga. E ele não só a serve de alimento e cerveja, como também de informações. É o cozinheiro que conta para uma Arya até então resoluta em ir para Kingsland matar Cersei, que Jon Snow retomou Winterfell e agora é o Rei do Norte.
"Agulha era o sorriso de Jon Snow"
A mudança no olhar de Arya é notória e nos remete ao afeto entre ela e o bastardo e sentimos o alívio de vê-la mudar de direção. Seu único pensamento agora é voltar para sua casa, para o abraço de Jon e para tudo que ainda lhe pode trazer um pouco de paz, o calor das paredes de Winterfell, o pátio, a segurança de casa... Mas ainda não é o encontro com Jon que vemos. Sozinha em meio a neve, lentamente Arya e seu cavalo (que deu sinal bem antes, ela que ficou moscando) são cercados por lobos ameaçadores... Até que a líder da matilha se aproxima e rosna. O encontro entre Arya e Nymeria é praticamente um olhar para o espelho. Elas se vêem e se reconhecem uma na outra. Quando Arya estende a mão para a loba gigante e a convida a voltar ao lar, Nymeria recusa e parte para a vida que construiu e escolheu, ao lado da sua matilha.
"Não é você". Assim como na primeira temporada, quando Ned revela a Arya seus sonhos de vê-la casada, com filhos e senhora de um castelo e a pequena Stark responde "Essa não sou eu", Nymeria não é um animal de estimação. Talvez Arya também tenha entendido que ela não é mais a menininha que deixou o lar ancestral dos Stark. Será que ela continua sua volta para casa?
Fazer o que precisa ser feito
De qualquer forma, mesmo que Arya continue sua volta para casa, não encontrará (pelo menos não agora) o irmão entre as muralhas de Winterfell. Os corvos que trazem o convite feat. intimação de Tyrion em nome da Rainha Daenerys e o que vem com as descobertas de Sam Tarly fazem com que o Rei do Norte decida descer até Pedra do Dragão, não para se curvar diante da Nascida da Tormenta, mas sim para buscar seu apoio e seu vidro de dragão para a luta contra os Caminhantes Brancos. Claro que Sansa pede que o irmão não vá, que não a deixe, que não deixe Winterfell num caminho que seu avô, seu tio e seus irmãos trilharam diretamente para a morte. Quando Jon revela sua decisão aos lordes do Norte, eles também exigem que ele não vá. Mas Jon não consegue viver senão para o que julga certo, e entrega nas mãos de Sansa, agora Senhora do Norte, o comando e o cuidado de tudo enquanto parte. É preciso ao menos tentar.
Quem quase tem um orgasmo de satisfação com isso tudo é Petyr Baellish que vê a oportunidade da sua vida de abocanhar Sansa, o Norte e parte do poder que almeja. Mas não sem antes tentar espicaçar Jon que numa cena que referencia também a primeira temporada, prende o pescoço de Mindinho entre seus dedos e o sufoca avisando que se encostar em Sansa é um homem morto. Tal qual Ned quando soube que o rival escondera Catelyn Stark em Kingsland.
esgana mais porque tá pouco |
E contra tudo e contra todos, Jon parte ao lado de Davos para encontrar a tão falada Mãe dos Dragões.
Silêncio
Tédio modorrento no barco em que Yara e Theon Greyjoy escoltam Ellaria Sand e as Serpentes de Areia até Dorne. Quando tudo parecia descambar para pegação desnecessária entre Yara e Ellaria, Euron recai sobre a frota dos sobrinhos, promovendo um massacre. E nem me perguntem como eles não viram uma frota imensa de navios se aproximando. Se o senhor do Silêncio conseguiu tirar do nariz uma frota de mil navios (e só pode ter sido do nariz mesmo. De um arquipélogo sem árvores como as Ilhas de Ferro é que não foi), ele pode também atacar sem ser visto nas brumas da noite em alto mar. Morrem duas das Serpentes da Areia (Punho de Ferro - e nós também - agradece), morrem praticamente todos os homens a serviço de Yara e Theon, morre Theon que ao ver a irmã refém de Euron, sucumbe ao Fedor e se joga em alto mar. E vocês podem me xingar o quanto quiserem, mas foi a coisa mais certa a fazer naquele momento. Covarde mas vivo, tem mais serventia do que heróico porém morto.
Euron encontrou os três presentes a entregar para Cersei; as assassinas de Myrcela e sua cúmplice. Se elas tiverem alguma dose de veneno entre as dobras de suas roupas, essa seria a melhor hora possível para bebê-lo, na boa.
E assim acabou um episódio que se curvou diante do passado para nos contar o que virá no futuro. E o futuro nos fala sobre a queda de Casterly Rock, sobre entrega de presentes envenenados e um encontro decisivo entre Gelo e Fogo. Quase como numa canção.
Que não desafine. Apenas não desafine.
Trailer do próximo episódio