Esta semana tivemos entre tantas outras notícias de destaque, a que informava sobre o caso da criança que supostamente teria morrido por intoxicação após beber um achocolatado de caixinha. O caso ocorrido em Cuiabá está sendo investigado pela polícia. Segundo o relato de familiares, a criança de 2 anos teria começado a passar mal após tomar o produto, vindo a óbito cerca de uma hora depois em uma policlínica da cidade. O achocolatado teria sido dado por um vizinho da família que ainda não foi localizado. A mãe e um tio do menino que também consumiram o produto e relataram tontura e náuseas, sendo que o tio precisou de atendimento médico.
Vamos tratar como suposto, pois o laudo da polícia ainda não saiu. - O produto era da marca Itambé (Itambezinho) e não um Toddynho como vi diversas pessoas relatando no facebook. Algumas pessoas ainda, para "reforçar" a tese de que era um Toddynho, também passaram a compartilhar um texto publicado no site do médico Drauzio Varella acerca da contaminação do Toddynho, tem prestarem atenção ao fato de que o texto é de 2014 e nada tem a ver com o caso ocorrido em Cuiabá.
Infelizmente o que mais acontece em redes sociais, é gente que vê uma chamada, compartilha - algumas vezes com frases e textões indignados - sem nem ao menos abrir o link para saber do que se trata. Ah e é claro, tem os que fazem de má fé mesmo, querendo causar, ganhar cliques e sabe-se mais o quê que possa saciar esses egos esfomeados e desonestos. Pelo amor de Deus, Alah, Oxalá, Yavé ou quem quer que seja quando você precisa apelar para uma força maior: ao ver uma notícia bombástica, impactante, antes de compartilhar e sair falando patoia, entre no link, veja a matéria, veja se portais sérios de notícia também deram a notícia, pesquisem. Espalhar um boato falso pode fazer com que você prejudique quem não tem nada a ver com o B. O. por pura leviandade. O tempo de procurar uma informação séria não vai te atrapalhar a ver vídeo de gente levando tombo, receita de bolo, ou jogar Candy Crush. De verdade.
Agora vamos falar do produto em si. O Itambezinho sabor chocolate é uma bebida láctea. Bebida láctea é o nome bacana que arrumaram para aquela bebida gostosinha que inventaram com fins de aproveitar o soro do leite que é separado da gordura no momento em que se faz queijos ou outros laticínios. Segundo o Regulamento técnico de identidade e qualidade da bebida láctea, "entende-se por Bebida Láctea o produto lácteo resultante da mistura do leite e soro de leite (líquido, concentrado e em pó) adicionado ou não de produto(s) ou substância(s) alimentícia(s), gordura vegetal, leite(s) fermentado(s), fermentos lácteos selecionados e outros produtos lácteos. A base Láctea representa pelo menos 51% (cinqüenta e um por cento) massa/massa (m/m) do total de ingredientes do produto."
Segue a tabela nutricional e a composição do Itambezinho. Essas informações e sobre outros produtos, você pode encontrar no site do fabricante:
Traduzindo, é um resíduo que ao invés de ir para o lixo, recebeu cor, sabor, conservantes, acidulantes, estabilizantes e mais um monte de "antes" que se você for pesquisar, vai criar até uma ruga na testa, de tanta porcaria que a gente consome sem nem saber. Apesar de parecer, vale lembrar que bebida láctea não é iogurte, sendo inferior ao leite e ao iogurte em termos nutricionais.
Dar isso para uma criança de 1, 2 3 anos, é submeter um organismo frágil e em formação a algo que pode ser extremamente tóxico e insalubre. Se você já é capaz de tomar suas próprias decisões e gosta de bebida láctea, ok. Eu mesmo consumo com frequência, porque a porcaria é gostosa e eu não gosto de leite. Agora, se sabendo de tudo isso que eu listei a pouco, você ainda assim oferece esse tipo de coisa (e miojo, e bolacha recheada, e suco de caixinha, e refrigerante e mais um monte de porcaria industrializada que a gente empurra em criança em nome da praticidade) então, eu sinto muito pelo adulto doente que essa criança vai se tornar.
E para os que dizem "ah, mas meu filho não gosta de legumes", "meu filho gosta", e coisas do gênero, gostaria de lembrar que quando a criança sai da barriga da mãe, não sabe nem o que está acontecendo no mundo. Até a mamar no peito da mãe é preciso que a criança seja orientada nas primeiras vezes, pra não correr o risco de não pegar o bico do peito da forma adequada, e vir alguma boca aberta dizendo que seu leite é fraco, por isso a criança está com sempre com fome. Os hábitos alimentares são formados dentro de casa. Mesmo que depois, na escola, ou em outros ambientes sociais a criança tome contato com produtos industrializados, ela já terá em si a cultura de uma alimentação adequada. O fast food, o refrigerante, e outros excessos alimentares, devem ser exceções, acontecimentos esporádicos, não o dia a dia da criança.
Ah, e no seu também. Porque remédio custa caro, e o SUS não tá dando conta da gente não
FONTES:
O Estado de Minas - Criança de Cuiabá toma achocolatado fabricado em Minas e morre
Site do Dr. Dráuzio Varela - Toddynho está contaminado por bactéria
Site Itambé Laticínios - Posicionamento da Itambé sobre o ocorrido em Cuiabá
- Itambezinho sabor chocolate 200 ml
UPDATE
E no fim das contas, não havia nada de errado com o Achocolatado. Na verdade foi uma tragédia com vários atos. O idoso que cansado de ser roubado envenenou o achocolatado que o ladrão sempre bebia, o ladrão que roubou o achocolatado... E eu me atreveria a incluir o familiar da criança que comprou um produto das mãos de conhecido usuário de drogas e praticante de furtos na região. Um bando de adulto sem noção e uma criança de 2 anos morta, uma mãe que chora a ausência de um filho.
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