O menino pobre que trabalhava para ajudar a família em Maringá e comprar seus livros, anos mais tarde quando já profissional da comunicação sentou-se em um barco, com um copo de whisky, um por do sol deslumbrante no Rio Negro em Manaus e a companhia do autor de Vila dos Confins, um dos livros comprados com o suor do menino Laurentino.
Anos depois, estava ali, o jornalista e escritor Laurentino Gomes, diante de nós alunos da comunicação social, para uma palestra dentro da universidade criada pelo amigo e autor de Vila dos Confins, Mário Palmério.
Foi assim, demonstrando esse carinho não só pela cidade de Uberaba, mas também pela Uniube, que Laurentino começou um papo descontraído sobre a profissão de comunicador, diferentemente da palestra da noite anterior no Anfiteatro do Centro Administrativo de Uberaba, onde falou sobre seus livros "1808" e "1822".
Laurentino iniciou sua carreira em um jornal do interior paranaense, num tempo em que as matérias eram escritas a mão, ou marteladas em máquinas de escrever, onde havia cabines telefônicas nas redações e fotos eram enviadas via aparelhos imensos após devidamente reveladas no banheiro de algum hotel distante. A tecnologia transformou as redações e deu às dificuldades do passado um tom romântico; mas nada, nada se compara às profundas mudanças causadas pela internet e a forma como a informação chega às pessoas em tempos de redes sociais. Produzir conteúdo tem exigido cada vez mais rapidez e com isso, tem mergulhado o jornalismo em uma certa superficialidade, não só no tratamento da matéria mas também em seu próprio conteúdo. O jornalismo tem migrado perigosamente para o entretenimento, buscando manter o interesse do público. Mas e o público que busca algo além do entretenimento?
Há ainda a mudança do papel do leitor, que deixou de ser um mero receptor e passou a gerar conteúdo também. Um exemplo recente, citado por Laurentino, foi a cobertura da Tsunami no Japão, onde a grande maioria das imagens exibidas em todo mundo, foram feitas pela própria população e não por veículos de imprensa. O jornalista não tem mais a exclusividade da notícia; o público produz conteúdo em blogs, fotologs, twitter e sabe-se lá em quantas outras ferramentas, "surgiram novas formas de jornalismo". A variedade de assuntos que movimentam sites e publicações impressas, mostram que o público tem se segmentado de acordo com seus interesses mais específicos.
Então qual a vantagem de ser jornalista, se qualquer um pode escrever e publicar na internet? Laurentino ressalta que o jornalista cria um olhar mais especializado sobre a notícia, dá a ela credibilidade, profundidade. O jornalista não pode se acomodar às facilidades do Google, precisa sair à rua conhecer a realidade local, pesquisar e apresentar um material de qualidade e que não se prenda a um único formato. A informação é multimídia, é preciso idealizá-la em diferentes formatos.
Essas mudanças tem causado impactos (drásticos) financeiros também. As redes de televisão aberta em geral veem sofrendo quedas acentuadas de audiência, visto que o público, tem buscado outras mídias como fontes de informação, cultura e entretenimento.
A palestra finalizou com perguntas feitas pelos alunos da Comunicação, ultrapassando um pouco o tempo previsto de duas horas de palestra, que acabaram parecendo poucos minutos... Havia muito mais conhecimento a se extrair de Laurentino Gomes.
Conheça os livros de Laurentino Gomes:
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