Em janeiro do ano passado, fiz um post sobre o lançamento do carro elétrico desenvolvido aqui em Uberaba.
E o carro sobreviveu bem a esse seu primeiro ano! Por sugestão minha, Maurício Santos Anjo foi entrevistado pelo meu colega de faculdade, Gleudo Fonseca que bateu um papo rápido sobre esse primeiro ano do Electro, quais as conquistas e decepções e claro, os planos para o futuro. Vejam a entrevista:
Na tarde da última quarta-feira, dia 13 de abril, a equipe do Jornal Revelação falou com Maurício Santos Anjos, criador do projeto de conversão de carros com motores à combustão, em veículos elétricos. Ele que buscava adquirir um carro elétrico de uma montadora famosa, se cansou de esperar e por conta própria, pesquisou e investiu em um projeto revolucionário, que vem dando certo. Ele já foi chamado de salvador, aplaudido de em palestras e que agora tem um novo projeto: o de uma casa autossustentável.
Gleudo: Na época do lançamento do Electro, o poder público demonstrou entusiasmo com o projeto; você ainda conta com o apoio do poder público ou foi só uma euforia inicial?
Maurício: Depois do lançamento nós tivemos uma visita na Câmara Municipal, mas a partir desse ponto a área pública não se manifestou mais.
Gleudo: Uberaba tem sofrido muito com a questão das enchentes, e é comum a perda total da parte elétrica de veículos convencionais nessa situação. O Electro tem algum tipo de proteção em relação a enchentes?
Maurício: Nós mudamos o carregador há um mês, é bem menor, mais leve e é à prova da água; o inversor que nós estamos trabalhando em parceria com a Uniube, será protegido contra a água, ele vai ter um tanque de proteção. O carro anda até debaixo d’água (risos). A maioria dos motores elétricos funcionam na água, então ele já é preparado pra água. O Electro é praticamente um carro à prova de água.
Gleudo: Em um ano, quais das expectativas iniciais se cumpriram?
Maurício: Uma surpresa foi com os ecologistas, uma decepção. Em mais de 400 pessoas que ligaram interessadas pra saber do preço, nenhuma era ecologista, a maior surpresa que tive foi essa.
Gleudo: De onde surgiu o propósito para a criação do Electro?
Maurício: Bom, meu tempo é curtíssimo, eu sempre tento diminuir meus trabalhos, e o carro é uma coisa muito trabalhosa, tem revisões, você precisa ir ao posto para abastecer, tem que se preocupar com óleo, e também pela preocupação com as coisas que estão acontecendo com o mundo. A gente não tem ideia de quanto lixo os carros produzem. Eu não sou ecologista, é apenas por bom senso.
Gleudo: Como o senhor conseguiu a aprovação da Fiat para dar prosseguimento com sua ideia?
Maurício: Todo investimento em pesquisa nesse projeto foi meu. Foram nove meses de pesquisa, vi que existia no mercado muita gente querendo um carro que não desse tanto trabalho quanto um carro convencional. A Fiat só soube quando saiu uma matéria a respeito do Electro no Estado de Minas, aí é que eles vieram a Uberaba para ver o carro. O nosso projeto com a ajuda de Deus, ficou melhor que o deles em vários aspectos. Eles ficaram interessados e nós entramos em negociação pra vira algo.
Gleudo: Quantos anos a Fiat enrolou o senhor?
Maurício: Foram três anos.
Gleudo: A equipe que trabalhou com o senhor na criação desse projeto era formada por quantas pessoas?
Maurício: Mais ou menos umas 20 pessoas. Na verdade eram sete empresas contratadas.
Gleudo: Quantos carros já foram modificados?
Maurício: Em torno de 400 carros.
Gleudo: Quais as áreas você pretende melhorar em seu projeto?
Maurício: A parceria com a Uniube é para a criação de um novo inversor especifico para o carro elétrico, porque o inversor que usamos é uma das peças mais caras, ele tem muitas funções, então é um pouco grande e pesado. Com esse novo projeto, vai diminuir muito o tamanho, o peso, o preço e em relação à água não vai ter problema.
Gleudo: De que material são produzidas as baterias?
Maurício: Existem dois tipos de baterias. A de chumbo é mais barata, mas têm várias desvantagens, peso, tamanho, durabilidade e a demora pra carrega. Já a de lítio é justamente o contrário, carregam três vezes mais rápido, são quatro vezes menor, cinco vezes mais leve, e a durabilidade é muito maior, duram de seis a dez anos, enquanto as de chumbo duram dois ou três anos. Existe também a de gel, ela é mais durável, mas é o dobro do preço.
Gleudo: Você acredita que os modelos elétricos serão produzidos em grande escala nos próximos 10 anos?
Maurício: No Brasil, eu acredito que em quatro anos já teremos a produção em série mesmo. O que a gente vai fazer nos próximos dois, três anos pra frente é transformação. No resto do mundo, você já compra normalmente o carro elétrico.
Gleudo: Fora do Brasil, existem empresas que apoiam projetos como o seu?
Maurício: Não existe apoio mesmo nessa área. O presidente dos EUA, no ano passado, deu um valor em milhões de dólares para desenvolver a bateria, isso a contragosto de muita potência. Deu um subsídio pra quem quiser comprar um carro elétrico de mais ou menos R$ 17.000,00. Em seis estados no Brasil há incentivo pra você ter uma moto ou um carro elétrico de isenção ou desconto no IPVA. No Rio de Janeiro você paga um terço e em São Paulo você não entra no rodízio.
Gleudo: Qual tem sido a aceitação do público quanto ao Electro?
Maurício: Eu fiquei muito feliz com a receptividade das pessoas, como se eu fosse um salvador, um exagero. Alguns ficaram até preocupados comigo, com me de me matarem, afinal eu estava tirando o dinheiro das grandes potências petrolíferas e de marcas mundiais de automóveis. Todos me parabenizando pelo feito, mas eu só tenho que agradecer a Deus, foi graças a Ele que deu tudo certinho.
Gleudo: O Electro é um carro para uso dentro da cidade. Existe algum projeto para a criação de algum carro elétrico de viagem, para andar nas rodovias?
Maurício: Tem um projeto secreto que está em desenvolvimento, que é pra chegar em 500 km. Eu te garanto que daqui a cinco anos vai ter carro elétrico que ande 500 km.
Gleudo: Quanto uma pessoa tem que desembolsar para transformar um carro?
Maurício: Depende. A mais simples custa R$29.000,00 e a mais complexa pode chegar a R$90.000,00.
Gleudo: Qual é o próximo projeto que você tem em mente?
Maurício: Nós estamos com um projeto de uma casa autossustentável, que gera sua própria energia e também para o carro. Isso quer dizer que eu estou saindo desse poder dos grandes. Não vou ter que me preocupar se a energia está subindo, com o petróleo.
Gleudo: Você já recebeu alguma proposta para a criação de algum outro veículo elétrico?
Maurício: Não existe trator elétrico, mas um cliente meu tentou juntar o dinheiro para a conversão do primeiro trator elétrico do mundo. O projeto ficou com um valor alto e ele não conseguiu o dinheiro, mas compensava, porque ele não teria mais gasto com manutenção.
Gleudo: Seu carro anda quantos quilômetros com uma carga de bateria?
Maurício: Em média, no mínimo 20 e no máximo 240.
Esses dias atrás, conversando com meu filho sobre o carro elétrico ele se mostrou surpreso de que um projeto desses tenha sido desenvolvido em Uberaba e que tenha dado certo. Na cabeça dele "gente inteligente assim só existe no Japão". Eu sou uma entusiasta do trabalho de Maurício Santos Anjo e em tempos de gasolina caríssima, é algo a se pensar, a conversão do carro para eletricidade. As pesquisas para diminuir o custo da conversão (29 mil reais é praticamente o preço de um carro novo!) e para aperfeiçoar o projeto continuam. Se tudo der certo, em breve essa conversão será acessível e a autonomia da bateria possibilitará inclusive que se viaje com o carro.
Quem quiser mais informações sobre o Electro, pode acessar a página do projeto. Lembrando que por enquanto, a conversão é limitada aos seguintes modelos FIAT: Pálio, Pálio Fire, Siena e Estrada.
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