Glauco e Raoni

"Mataram o menino
Tinha arma de verdade,
Tinha arma nenhuma,
Tinha arma de brinquedo
Eu tenho um autorama,
Tenho Hanna Barbera
Tenho pera, uva e maçã
Tenho Guanabara e modelos Revell
O Brasil, é o país do futuro..."
(Legião Urbana - "Duas Tribos")

Homenagens a Glauco dos cartunistas Alessandro Guarita e Nico.



Chego em casa mais cedo e o que vejo? A notícia da morte de Glauco, um dos maiores nomes do cartoon nacional, discípulo de Henfil, meu primeiro contato com o cartunismo e com a sutileza da crítica política sufocada pela mão de ferro da ditadura...

Chego e vejo que alguém talentoso, que construiu sua família, seu legado, que viveu honestamente do seu trabalho, foi morto bestamente por algum estúpido, que não teve competência sequer pra ser gente, quanto mais pra ser feliz.

Glauco era conhecido, prestigiado...mas todos os dias morre gente assim, todos os dias, você não pode ter nada, nem mesmo uma porra de uma bicicleta velha, que vem uma besta e te aponta uma arma e leva tudo, até sua vida.

A bicicleta velha os bandidos levaram, graças a Deus, não descarregaram a arma em meu irmão...Mas quantos não tem essa mesma sorte? E de que adianta trabalhar tanto, lutar tanto, se vem um filho da p... e em menos de cinco minutos, leva tudo, sem esforço nenhum, pra queimar numa pedra, cheirar ou simplesmente usufruir? E que sanha assassina é essa, que faz com que não satisfeitos te levar o fruto do suor, levam também sua vida, deixam apenas a dor e a revolta pra trás?

Glauco e seu filho pelo menos se livraram desse inferno; a nós, vivos, resta conviver com os demônios.

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